'Abdias do Nascimento': espetáculo teatral celebra legado do ativista no Dia da Consciência Negra em Fortaleza
O que assistir no Dia da Consciência Negra em Fortaleza
Pela primeira vez em Fortaleza, o espetáculo "Abdias do Nascimento", que homenageia o escritor, dramaturgo, político e ativista dos direitos das populações negras, chega no Theatro José de Alencar (TJA) em uma data significativa: 20 de novembro, quando se celebra o Dia da Consciência Negra.
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A data faz referência ao dia em que Zumbi dos Palmares foi morto e propõe reflexões sobre a valorização da identidade negra no Brasil e avanços da luta antirracista. Na capital, cearenses e turistas poderão conhecer de perto a história de Abdias do Nascimento, que morreu em 2011 deixando um legado expressivo (saiba mais abaixo).
O espetáculo tem direção de Johayne Hildefonso e Iléa Ferraz.
Divulgação
Esta é a dica do Guia de Lazer do g1 CE desta sexta-feira (14)! A peça terá duas apresentações - ambas no dia 20 - às 18h e às 20h no Theatro José de Alencar (TJA), Centro de Fortaleza. Os ingressos custam entre R$ 15 e R$ 30 e estão disponíveis no site.
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'Pai da luta antirracista'
Abdias Nascimento com a máscara mortífera do poeta Léon Damas, em 1996
Luiz Paulo Lima Fonte/ Acervo Abdias Nascimento Ipeafro
O g1 conversou com Lincoln Oliveira, mente idealizadora do projeto e ator que interpreta Abdias no espetáculo. Ele explica que a peça, além de apresentar fatos verdadeiros sobre a vida do ativista brasileiro, também surge com a ideia de combater o "mito da democracia racial" e fazer reflexões sobre a importância da afirmação da negritude no país.
"A gente mostra que o Abdias, na verdade, é o pai da luta antirracista. Todas as conquistas que nós temos hoje, legais, a lei de cotas, foi ele que começou a brigar por isso", comenta o ator.
Além de Lincoln, o espetáculo conta também com o ator Fernando Porto, que interpreta o diretor de teatro que conduz Abdias no palco. A ideia do projeto surgiu para Lincoln de maneira natural, como um "encontro". Ele já conhecia a obra de Abdias, mas não havia se aprofundando e viu no teatro a forma ideal de fazê-lo:
"Eu já venho trabalhando com essa questão étnica há muito tempo. Esse é o meu quarto espetáculo. Quando comecei a procurar um tema, eu queria falar de negritude, falar desses homens que cunharam essa palavra, essa proposta. Só que nesse processo, eu dava sempre de cara com Abdias. Eu comecei a estudar e não teve jeito: foi impossível não montar um espetáculo sobre Abdias. Ele é muito grande".
Para o ator, o principal desafio foi criar uma peça que desse conta do legado do ativista. Nascido em 1914 na cidade de Franca, São Paulo, Abdias é referência na causa pan-africanista, movimento mundial de reparação dos povos africanos colonizados.
Confira aqui matéria especial do g1 sobre o escritor.
Abdias Nascimento: como foi a infância do ativista na luta contra a discriminação racial
Ele também foi indicado ao Nobel da Paz em 2009, um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro e participou das articulações políticas para a criação das cotas raciais, a criminalização do racismo e a instituição do feriado nacional da Consciência Negra.
"A maior dificuldade foi a criação do texto. A gente penou bastante. A nossa solução, graças ao Ivan Jaf e ao Diego Ferreira (roteiristas), foi trabalhar com metalinguagem. Então o nosso espetáculo se passa em um dia do ensaio do espetáculo. A peça é o ensaio da peça. A gente conta, fala da dificuldade de abordar esse personagem e da riqueza que é. A gente vai elaborando, como se faz no ensaio mesmo, lendo trechos, ensaiando, exercitando partes da peça", explica Lincoln.
Peça utiliza a metalinguagem e terá duas sessões em Fortaleza, no TJA.
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A expectativa do ator para as duas apresentações em Fortaleza é das melhores. Lincoln já esteve na cidade com outras peças, inclusive com a companhia de Antônio Abujamra, mas esta será a primeira vez com um projeto autoral. Ele analisa de forma positiva o cenário teatral da capital cearense e acredita ser fundamental apresentar uma figura como Abdias à juventude negra nordestina:
"De maneira geral, o Nordeste dá uma aula ao Brasil. A gente não pode mais manter aquela visão arcaica, racista e classista de que o Nordeste é um polo inferior de produção cultural. Pelo contrário, aqui se gera cultura de qualidade, com consciência. Tenho viajado pelo país e observado que todo mundo está muito atento à necessidade de discutir as questões identitárias. É como se o Brasil estivesse se reconhecendo de verdade e disposto a enfrentar essa luta", pontua o artista.
Em 2026, completam-se 15 anos da morte de Abdias do Nascimento, um marco importante para Lincoln e para a equipe do espetáculo. Preservar a obra do ativista e transmitir a mensagem do antirracismo é o principal objetivo do projeto. Coincidentemente, as duas sessões da peça ocorrerão em 20 de novembro, e a trupe faz o convite para que o público mergulhe nessa história de coração aberto e olhar atento:
É uma história que mostra que todos devemos correr atrás dos nossos desejos e sonhos. É preciso descolonizar as cabeças. E essa é uma proposta voltada às novas gerações. Quando esse processo acontece, começamos a ter esperança em um futuro mais bem estruturado. Fico muito feliz em contribuir com a minha parte nesse processo. Ser negro é, obrigatoriamente, uma vivência política
Confira a sinopse do espetáculo
Equipe utiliza palco aberto.
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Em um pequeno palco, inicia-se o primeiro dia de ensaio de uma peça que busca não apenas revisitar a trajetória de um dos maiores ícones da luta pela igualdade racial no Brasil, mas também evocar as emoções, os desafios e as vivências de dois homens negros que, ali, representam a memória viva dessa luta.
A montagem mergulha nos bastidores de uma produção em homenagem a Abdias do Nascimento (1914–2011) — escritor, senador, ativista e fundador do Teatro Experimental do Negro. No centro da narrativa, estão um ator e um diretor que se desnudam não apenas de seus personagens, mas também de suas próprias identidades enquanto homens negros na sociedade brasileira.
No palco, o ator Lincoln Oliveira encarna Abdias. Do outro lado, o diretor, interpretado por Paulo Guidelly, não apenas conduz a encenação, mas também guia a jornada da peça, para que ela transcenda a simples recriação de fatos históricos e se torne um manifesto vivo de resistência, memória e transformação.
Assista aos vídeos mais vistos do Ceará:FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/11/14/abdias-do-nascimento-espetaculo-teatral-celebra-legado-do-ativista-no-dia-da-consciencia-negra-em-fortaleza.ghtml
